Poesias de Dom Pedro II/64
MISERERE.
( Psalmo L. )
Compadeça-se, oh Deus tua grande piedade,
E com teu dó infinito apaga-me a iniquidade.
Lava-me d’ella, limpa-me do peccado;
Conheço-o, e contra mim ’stá elle sempre armado.
Contra ti só pequei, e ante ti fiz mal;
Assim cumpres promessa, e teu juizo val.
Entre as iniquidades fui eu produzido;
E por minha māe em peccado concebido.
Mas tu, Senhor, a verdade sempre amaste,
E teus sabios mysterios me manifestaste.
Co’o hyssope m’aspergiste, e estou purificado;
Lavaste-me, e mais que a neve eis-me branqueado.
Darás a meus ouvidos gaudio e satisfaçāo,
E meus ossos humildes tripudiarāo.
Afasta de teus olhares estes ineus peccados,
E sejāo os meus crimes por ti apagados.
Cria em mim, oh meu Deus, bem limpo coraçāo
E espirito em minhas entranhas sempre sāo.
Jamais de tua presença seja eu repulsado.
Nem de mim ten Espirito Sancto retirado.
Restitue-me a alegria do auxilio salutar,
E tua potente graça a me fortificar.
Teus caminhos ensinarei eu aos malvados,
E os impios ficarāo para ti voltados.
Do sangue, que derramei, oh Salvador
Livra-me, e de tua justiça serei louvador.
Sacrificios que quizeras , eu vol-os daria;
Mas co’os holocaustos nāo vos deleitaria.
Hostia de Deus acceita é alma angustiada;
Nāo a desprezareis, oh Deus, contricta e humilhada.
Oh Senhor, por tua vontade bemfazeja
P’ra Sion , Jerusalem seus muros veja.
Entāo oblaçōes justas, victimas acceitarás,
E pôrem em teu altar vitellas tu verás.
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